Resenha | Mrs. Dalloway

10 fevereiro 2024



Oi sonhadores! Como estão?

Escolher a primeira leitura do ano sempre é muita emoção para mim! Eu penso muito em qual história seria boa para começar, e o selecionado para 2024 foi Mrs. Dalloway, um clássico escrito por Virginia Woolf!

E para ser sincera, não foi uma leitura fácil, eu mal conhecia a escritora e nem sabia que era tão importante assim, eu comprei porque tinha gostado da sinopse e me fazia lembrar muito da narrativa de Clarice Lispector (que eu amei).

Mas, antes de começar os comentários, vamos conhecer um pouco do livro?




Ficha técnica:
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Sinopse: Obra mais famosa de Virginia Woolf, Mrs. Dalloway narra um único dia da vida da famosa protagonista Clarissa Dalloway, que percorre as ruas de Londres dos anos 1920 cuidando dos preparativos para a festa que realizará no mesmo dia à noite. Pioneiro na exploração do inconsciente humano por meio do fluxo de consciência, Mrs. Dalloway se consagrou tanto pelo experimentalismo linguístico quanto pelo retrato preciso das transformações da Inglaterra do períodoentre guerras. Misto de romance psicológico com ensaio filosófico, este livro resiste a classificações simplistas e inaugura um gênero por si só. Precursor de algumas das maiores obras literárias do século XX, este romance é uma leitura incontornável que todo mundo deve fazer ao menos uma vez na vida.

Autora: Virginia Woolf

Editora: Penguin Companhia

Ano: 1920

Número de páginas: 240

Gênero: clássico, romance

Estrutura do livro: não tem capítulos




Sobre a escritora:
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Virginia Woolf (1882-1941) foi uma escritora inglesa que fez parte do modernismo britânico. Sua infância foi marcada pela influência de livros e intelectuais, aos 13 anos começou a lidar com crises depressivas e ao se casar fundou a editora Hogarth Press. Seus escritos tem elementos como a representação feminina, criticas sociais, características autobiográficas, homoerotismo, elementos do cotidiano, linguagem lírica, análises psicológicas e entre outros.



Crítica:
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Mrs. Dalloway é uma história peculiar e incomum, totalmente diferente de todas as minhas outras leituras. Em sua narrativa, a escritora apresenta não só a perspectiva de uma personagem principal, a Clarissa Dalloway e o Septimus Smith, como também perpassa pela perspectiva de diversos outros personagens que estão diretamente e indiretamente ligados em sua vida.

Ao comentar sobre essa linha de pensamentos, acredito na verdade que seja mais um fluxo de consciência sendo diluído entre as páginas, e nos fazendo mergulhar em cada um, sem aviso prévio ou preparação, vamos literalmente indo e vindo de várias constantes diferentes. O fato do livro não ter capítulos, não ter uma parada na narrativa e nem sequer preparar o leitor para uma mudança de ponto de vista do personagem, acaba dificultando um pouco o processo da leitura.



O livro, exige muito da atenção contínua do leitor, e muitas vezes me via perdida, sem saber se estava entendendo mesmo o que estava acontecendo ou até de qual narrador estaria sendo revelado.

Ademais, é interessante observar que, a história se passa em apenas um único dia, citando muitas vezes as horas exatas de determinados pensamentos ou ações de quem estivesse narrando no momento.

Sobre o que observei é que Mrs Dalloway, é uma história que a medida que lê, vai se acostumando com a escrita da autora, o que me remeteu muito o meu primeiro contato com a escritura de José Saramago, que também segue sua própria regra e o leitor que se vire pra entender. CLÁSSICO! Além do mais, a Virginia Woolf tem uma escrita um tanto poética e subjetiva, o que me lembrou consequentemente de Clarice Lispector.

Algo que observei, é que o livro traz a representatividade feminina e da bissexualidade na personagem Mrs. Dalloway, apresenta momentos que se mesclam com a vida da escritora, bem como entrega críticas sociais da primeira guerra, sobre os traumas psicológicos que muitos tiveram, e nos fazendo refletir sobre a necessidade do cuidado nos transtornos psicológicos.



Na verdade, há muitos momentos do livro que pode nos levar a reflexão, mas não irei citar aqui porque seria muitos, entretanto o que me chamou atenção foi a relação da vida superficial que Clarissa vivia, de seus amores passados, e de festas, com a vida sofrida de Septimus, sua depressão e suicídio que se tornam sem importância para os outros. Como a morte pode ser representada em situações...

Concluindo, no geral foi uma leitura bem difícil, pensava que não demoraria tanto para ler mas fiquei praticamente o mês inteiro de Janeiro tentando continuar. Fiquei um pouco presa na história, amei e fiquei surpresa em saber que Mrs. Dalloway sentia-se atraída por ambos os sexos. Não imaginava isso em um clássico ainda mais escrito por uma mulher. Foi muito interessante, apesar de tudo. Recomendo, se gosta de se aventurar em escritas diferentes e clássicos.

 

Frases:
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Só Deus sabe por que a gente gosta tanto disso, por que vê isso dessa maneira, cria tudo isso, constrói isso ao nosso redor, desfazendo e refazendo tudo a cada instante.

 

Ela se sentia muito jovem; ao mesmo tempo, inconcebivelmente velha.

 

Tinha uma sensação permanente, olhando os táxis, de estar longe, longe, bem longe no mar e sozinha; sempre era invadida por essa sensação de que era muito, muito perigoso viver, ainda que por um dia.

 

Não sabia nada; nada de outras línguas, nada de história; e agora raramente lia, a não ser memórias, quando se deitava antes de dormir.

 

Fazia alguma diferença então, perguntou-se, caminhando em direção a Bond Street, fazia diferença se ela inevitavelmente iria deixar de existir por completo; mesmo com sua ausência, tudo isso vai continuar; era algo para se lamentar, ou havia consolo em ver na morte o fim de tudo?

 

Como ansiava por isso – que as pessoas se alegrassem ao vê-la.

 

Que curiosa essa sensação de ser invisível; despercebida; desconhecida.

 

Mesmo assim, às vezes não conseguia resistir ao fascínio de uma mulher, não de uma garota, mas de uma mulher que lhe confessasse, como elas costumavam fazer, alguma de suas enrascadas, alguma de suas aventuras.

 

Mas durante a noite toda não conseguiria despregar os olhos de Sally. Era de uma beleza extraordinária, do tipo que mais a atraía, morena, de olhos grandes, com essa qualidade que, por lhe faltar, sempre despertava sua inveja – uma espécie de abandono, como se ela pudesse dizer o que quisesse, fazer o que quisesse; uma qualidade bem mais comum em estrangeiras do que em inglesas.

 

Lá ficavam elas, horas e horas, conversando no quarto que ocupava no alto da casa, falando da vida, e de como iriam consertar o mundo.

 

Foi como se o mundo virasse de ponta-cabeça! Os outros haviam sumido; estava sozinha com Sally.

 

Se tivesse me casado com ele, teria essa alegria o tempo todo!

 

A diversão dele, pois em parte inventada, como bem sabia; uma invenção, essa escapada com a jovem; inventada, como se inventa a maior parte da vida, pensou – inventando a si mesmo; inventando a jovem; criando uma diversão requintada, e algo mais. Mas havia sido estranho, e bem genuíno; tudo isso era algo impossível de partilhar – reduzindo a pó.

 

E não podia vê-la; não podia lhe explicar; não podia colocar tudo em pratos limpos. Sempre tinha gente em volta – e ela continuava agindo como se nada tivesse ocorrido.

 

E o tempo todo, ele sabia perfeitamente, Dalloway estava se apaixonando por ela; e ela estava se apaixonando por Dalloway; mas aquilo não parecia mais importar. Nada mais importava. Sentados na relva, eles conservaram – ele e Clarissa. Sem nenhum esforço, seus espíritos se entenderam perfeitamente.

 

Esperava dela o impossível.

 

Todavia, o sol estava quente. Todavia, a gente acaba superando tudo. Todavia, sempre na vida um dia vem depois do outro.

 

Ela estava vulnerável; rodeada de árvores enormes, das nuvens imensas de um mundo indiferente, vulnerável; atormentada; e por que deveria sofrer? Por quê?

 

Ele a achava linda, considerava-a impecavelmente sábia; sonhava com ela, escrevia-lhe poemas.

 

Ele foi invadido por um pavor horroroso – não sentia mais nada.

 

E há uma dignidade nas pessoas; uma solidão; mesmo entre marido e mulher há um abismo; e isso é algo para se respeitar, pensou Clarissa.

 

Mas – mas – por que de repente, sem motivo aparente, ela se sentia tão desesperadamente infeliz?

 

O que ela apreciava mesmo era a vida.

 

Todos os homens se enamoravam de Elizabeth, mas ela na verdade morria de tédio.

 

Pois então ele voltara a ser ele mesmo, voltara a rir. Haviam vivido juntos aquele momento. Aquele chapéu ia ficar para sempre em seu coração.

 

Qualquer coisa, absolutamente qualquer coisa no mundo, a menor preocupação relacionada com seu trabalho, qualquer coisa que tinha vontade de dizer, ela sempre lhe contava, e ele entendia de imediato.

 

Ela era tudo aquilo. E, portanto, para conhece-la, ou qualquer outra pessoa, seria preciso ir atrás daqueles outros que a completavam; e até mesmo dos lugares. Ela sentia uma estranha afinidade com pessoas às quais jamais dirigira a palavra, uma mulher na rua, um sujeito atrás do balcão.





Espero que tenham gostado da resenha, se já leu ou se interessou pelo livro, me conta nos comentários! vejo vocês no próximo post!  

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